quinta-feira, fevereiro 12, 2004

"Uma visão memorável"


As núpcias do céu e do inferno
"Aqueles que refreiam o desejo assim procedem porque o que possuem é bastante débil para ser reprimido, e o repressor, isto é, a razão, usurpa o lugar do que anelam & governa os relutantes. E o desejo sofreado vai-se gradualmente tornando inerte até reduzir-se a uma sombra do que era.

Uma visão memorável

Enquanto eu caminhava entre os fogos do inferno, regalando-me com as deleitações do Gênio, pelos Anjos figuradas como tormento, reuni alguns dos seus provérbios, após refletir que, assim, como as máximas em curso numa nação timbram o seu caráter, outro tanto os rifões do inferno revelam a natureza da sabedoria infernal melhor do que qualquer descrição de edifícios ou de peças de vestuário.
Quando reentrei em mim, postado no abismo dos cinco sentidos, onde um precipício de escarpas lisas dir-se-ia amarrar o sobrecenho sobre este mundo, vi um Demônio possante envolto em nuvens negras, pairando sobre os flancos do rochedo: com chamas cor/rosivas escrevia a seguinte frase, agora apreendida pela mente dos homens & lida por eles na terra:

“Como sabeis que cada pássaro que sulca as trilhas aéreas
Não é um imenso mundo de deleites fechado por vossos cinco sentidos?”

Uma visão memorável [ A Memorable Fancy]

(...) Interroguei, também, Isaías sobre o que o havia compelido a andar nu e descalço durante três anos. Retorquiu ele: “O motivo idêntico que levou o nosso amigo Diógenes, o grego, a mostrar-se assim.”

W. Blake