domingo, junho 15, 2008

Parênteses

[Arte do interior de Minas Gerais]
Incerteza em palavras & imagens. Voltei pensando em parênteses, mas não os da gramática, a sinalizar algo que não nos pertence ou que simbolizam com muita elegância a existência de uma área-limítrofe definida: abre onde se tem permissão para começar a ler (ler um alguém, um sentimento, uma sensação, uma vida), fecha onde devemos parar a leitura. Parênteses são, portanto, proibitivos, (só pode ir daqui até ali, nem mais e nem menos). Novamente um paradoxo, parênteses têm vida, mas vida breve, se muito extenso, deixa de ser o que é, torna-se parecença e então dissimulação. Limites não devem dissimular, servem antes para que não haja espaço para más-interpretações, o que pode levar à dissimulação. O homem do estilo toujours usa ou não usa parênteses?
Ele não é definitivamente o estilo de homem toujours (não é companhia para todo-dia). E o chá de jasmim? É que a entonação diferenciada ou um timbre de voz baixo são formas de parentesear a vida do cotidiano com sutileza. Jaz (em)_mim, parêntese entrecortado, mediado, ambígüo: não sei onde inicia e onde tem suas arestas finais. Talvez um chá, talvez um “em mim”. Jaz como serenidade e quietude (em mim) certamente. E com a continuidade da permanência, pois que permanecer também é jazer (em mim) não tão certamente. Nem todo dia se usa talvez. E talvez não combina nada, nada com áreas-limítrofes definidas. Jaz em mim Bob Dylan, Neil Young, Chico Buarque, as depressivas do Pink Floyd e, talvez, Jazz, este, puro parênteses dos escritores melancólicos. Então, percebo que os parênteses são para os melancólicos que tentam parecer não-ser e que gostariam de eles próprios serem do estilo toujours. Não, eles sabem que não são para todo-dia. Melancolia não combina com o abrir das cortinas para a entrada do primeiro sol. Os melancólicos vivem na corda-bamba de parênteses auto-imperativos que somente eles conhecem e se alguém ousar lhes perguntar, como não sabendo explicar coisa alguma, abrirão aspas para alguma citação adequada. Confundem aspas com parênteses porque elas são uma forma dos parênteses existirem naturalmente entre duas pessoas no cotidiano. É porque os melancólicos levam o cotidiano através da dissimulação, isto é, entre aspas e parênteses o mundo vai girando ao seu redor. Porém, em suas sensações e percepções, lá no alto da pergunta buarqueana “o que é que a vida vai fazer de mim?”, ficam a melancolizar (essa mesma) vida, como jasmim tornado jaz em mim, como chás de folhas de parece-mas-não-é, folha-de-sangue. Continuam não sendo do estilo toujours. Ele não é melancólico, mas também não é do estilo toujours, eu só ainda não entendi direito a razão de ele ser do tipo parênteses (e não entendi, porque chá de jasmim me faz ver o movimento da vida quadro-a-quadro e na introspecção dissimulada, a dizer uma coisa e a pensar em outra, como se bebesse chá de folhas de parece-mas-não-é (também chamada de folha-de-sangue), ouço tudo com atenção enquanto os parênteses vão se melancolizando uns sobre os outros, jazendo sobre a imagem do chá com folha-de-sangue (imagem em vermelho), boa cor para o final de um texto (parênteses deveriam todos ser vermelhos, já que não são inocentes na lingüística, embora disfarçados de refinamento e delicadeza, como se pedissem desculpas por interromper).
Dedico, pois, este texto a ele, que toma muito chá de jasmim e o “toma” a pensar em parênteses ((e) em parênteses).
“Toma!” (como se escrito em russo estivesse).
Em tempo 1: Na análise lingüística os parênteses determinam o sentido do dizer, exemplo (adaptado, então vai sem aspas): (Os que melancolizam muito) se entediam. (Os que melancolizam) muito se entediam. (Os que vivem em parênteses) muito chá tomam. (Os que vivem) em parênteses muito chá tomam.
sANdrA adriANA