quinta-feira, novembro 11, 2004

De Profundis & Hilda Hilst


Anna guardou os dois livros na bolsa ignorando o pedido para que eles fossem deixados sobre a mesa. Adorava carregá-los por onde quer que pudesse ir. Não era necessário abri-los, senti-los ali, bem próximos, era como possuir talismãs especiais para divagações particulares e silenciosas. Em certo sentido, acreditava nisso, pois existiria um outro alguém carregando consigo De Profundis & Hilda Hilst pelas ruas de uma mesma cidade naquele exato momento? Porque a circunstância era única e jamais se repetiria, nem ao menos para Anna, os livros acabavam sendo sentidos como magias verbais a transformar os 'sentimentos de sempre' em 'sentimentos de não-sempre.'
Por quanto Tempo se suporta uma tristeza que não a sua?
Por quanto Tempo se suporta uma alegria que não a sua?
"E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas
Sem poder tocar-te
Quantas vezes amor
Uma nova vertente há de nascer em ti
E quantas vezes em mim há de morrer?"
Hilda Hilst
Quantas vertentes novas um talismã protege? _quando a vertente não é nossa mas o amuleto, sim.
& os livros-como-encantamento-silencioso