quarta-feira, setembro 09, 2009

Das Suavidades Inexplicáveis


Jantar numa enorme mesa redonda. Vista lá do alto de onde podíamos ver todas as luzes da cidade. Terraço onde muitas pessoas foram se sentar após o jantar. Um grupo começou a tocar violão e a cantar. Um vento muito frio lá em cima. O músico com voz doce me empresta seu casaco carmim. Sinto a sensação do tecido de seu casaco sobre minha pele como sensação-doce, parece um manto. Meu namorado volta e fica com ciúmes, faz eu tirar o casaco e devolver ao músico de voz doce. A sensação agora é de 'abandono'. Fico muito triste & nada mais me aquece, embora esteja agora com o paletó de meu namorado. Já não tenho a mesma sensação. O músico canta uma música linda como se a voz de um anjo estivesse acompanhando a voz do vento que sopra, se o vento fosse a companhia de uma pessoa neste mundo com certeza seria a sua, a do músico com voz de anjo. Pergunto o nome da banda, mas as respostas não são claras e eles não falam português. Eu me pergunto como eles não são conhecidos ainda, foi lindo demais tudo que ouvi. Por alguns instantes senti assim: "eu me deixaria levar, conduzir para qualquer lugar se ele continuasse a cantar. Enfeitiçava sensações, talvez também as adormecidas há milênios. Havia uma energia se misturando com a voz do vento e isso fez com que eu me lembrasse de uma passagem do Apocalipse, 'A mulher vestida de sol', e penso que ali é um lugar a lembrar voos de águia, asas, pouso, nuvens, ventos soprando suas vozes meigas. Como se o Universo, por instantes, entoasse uma berceuse celebrando palavras antigas, rostos já conhecidos, vidas outras, Universo a amar cantigas de ninar. O músico de voz doce sabia sobre tudo? Que sim, que ele sabia. Mas por que fiquei eu com sensações inexplicáveis durante tanto tempo? Todo o tempo.
*
Eu nunca mais me senti protegida como naquela noite. E nunca mais pensei no vento soprante. E nunca mais ouvi uma voz tão suave. E nunca mais os vi.
*Assim, as lembranças.
sandra