terça-feira, fevereiro 21, 2006

Para Quando Fores Calcular o Beijo

Anna Karenina — Precisamos cuidar para que os beijos não se tornem cartesianos em sua não-cartesianidade.
O Estrangeiro — Precisamos então explorar as coordenadas de X & Y em suas possibilidades.
Anna Karenina — Calculando o nada do beijo?
*
Sabe aquilo que eu dizia há pouco? O medo de perder um sentimento? Este é o lado cartesiano que nos possibilita partirmos de um ponto e a ele retornarmos, como voltar para casa porque o sentimento continua a existir. A insistência na não-cartesianidade é o que nos leva por caminhos incertos demais em emoções. Incertezas são boas? Sim. Mas só quando se sabe vivê-las. Estávamos no “lugar” certo? Não acreditava muito nas palavras do Estrangeiro. Não existe a não-cartesianidade em lugar algum, de modo algum. Tudo que possuímos como um novo existir, passado um tempo de repetição se torna cartesiano. É como conviver com uma pessoa fancy, delirante, após um tempo não a vemos mais assim, ela soa cartesiana em seus delírios. Para mim o fim existe. A diferença é que eu adoro o fim que fica no meu imaginário. Então, é tudo, menos a linearidade chata e tediante de métodos e regras. Nós não tomamos café da manhã com Cartesius quando estamos juntos, Estrangeiro, porque há sempre uma pergunta. Sempre. Ainda bem que o significado real das palavras, ainda que as mesmas, sempre escapam, há novas representações nas palavras e como é difícil optar, decidir, termos certezas sabe o que acontece? Estamos continuamente tentando expressar tudo, tudo, pelas palavras. As perguntas são como aquilo que permanece no que muda. Como Heráclito, que afinal de contas não era cartesiano, apenas e tão somente, vivendo os opostos, sem o cálculo do nada ou de qualquer outro cálculo_ ou qualquer outro nada.