sábado, abril 01, 2006

Olhares que formam sombras-de-luz & imagens que formam lembranças em sensações

Eu vi a sombra de luz sentida sair pelo meu olhar, eu vi a sombra de luz sentida em teu olhar, enquanto também sentias. Aquela luz que temos a dádiva de perceber algumas poucas vezes durante toda uma existência, como o sorriso descrito por Fitzsgerald, "com o qual nos deparamos duas ou três vezes na vida". Não fora teu sorriso, nem somente um toque pelo teu olhar, fora nem luz, apenas a sombra de luz. Tentativa de descrever uma sensação-passada e a cada vez que a vejo em retorno de lembranças que vêm não por pensamentos, mas por imagens, o que ainda "vejo"? Vejo o instante que passou pelo teus olhos, ainda sinto a luz pela imagem, a sombra, o inesperado. Estes momentos já valeriam uma vida, porque antes ou além das sensações outras coisas formam luz, formam sombras e formam experiências não exatamente empíricas_ embora os paradoxos que envolvem as sensações..._ tentam falar daqueles mistérios que passam ao lado da vida, aqueles para os quais não olhamos, acreditamos que não formam tempo, cremos que não formam lembranças, confiamos que não formam Vida, mas, então, às vezes, somente às vezes, "vemos" e a sensação-sombra-de-luz forma-se em pontos que aos olhos de um passante nada significariam, e de tantos e tantos que passam, este é o olhar que jamais se esquece, um olhar de não-mundo-real, um olhar de não-nada-comum, nada-daqui, sim, nada-daqui porque formando luz no muito antes de nós, só consegue "no dentro de nós", formar uma tênue sombra do que seria uma luminosidade caso fosse possível vê-la ou senti-la no muito antes de nós e que, por isso, diz: e é por isso que a gente forma lembranças em sensações, lá, numa imagem quase sem movimento mas ainda com muita vida. É no silêncio de percepções mesmas que o instante de uma vida é reciprocamente compreendido sem palavras? Se as pessoas tivessem uma excelente percepção em cada passo dado em um único instante de cada dia as palavras não seriam tão necessárias para formar_ com mais pertença_ os instantes de Vida subseqüentes. Palavras, palavras são tão ou mais necessárias para quando o mundo existencial do outro lhe é quase que completamente inacessível e incompreensível, as palavras são a confirmação da incapacidade humana de perceber o que se forma imperceptivelmente em sombras-de-luz onde aquilo que mais brilha é visto em opacidade, onde os pontos luminosos não vistos pela percepção precisam de palavras. Desconfio de quem fala sem parar, desconfio de sua percepção e me pergunto: terá vislumbrado alguma vez em sua vida o que existe de mais belo? Terá percebido em sua vida momentos que se formam em delicadeza de imaginação? Por que olham para o outro lado onde não há nada? Por que preferem a ilusão do lado que contendo o nada se distancia de tudo que respira Vida-Verdadeira?
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sANdrA escreve para o Filósofo que Formou Sombras-de-Luz Em Sensações & Imagens & Ainda Se Pergunta: tivesse eu sentido aquele instante como era para ser sentido em sua plenitude, estaria, agora, transpondo para Palavras?_ pois estou, eu, a contradizer-me ao escrever este texto. Assim é a Vida.
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arte do artista plástico deodato