sexta-feira, novembro 24, 2006

Deixem a Paixão Ser O Paradoxo da Vida


Kierkegaard sustentou o tempo todo de sua existência, embalado em muita melancolia, que "o paradoxo é a paixão do pensamento". A vida nos dá momentos que passam e o que fica é belo na lembrança. "Pensar o próprio pensamento" em um movimento contínuo onde predomina o paradoxo, talvez, nos leve a apressar o fim do início. E os momentos na memória aumentam em paradoxalismos. No amor, uma espécie de maiêutica-de-si-próprio leva à liberdade aprisionada solitariamente. Todo paradoxo de Amor_ amar ou não-amar_ conteria liberdade e aprisionamento? Que seja. Eu sempre passava pelo teu jardim pelo caminho do lado, "passez à côte" eram as palavras que me vinham em mente ao me sentir uma passante pelo pequeno jardim. Como na Vida, passos ao lado são difíceis de sustentar seja como paixão seja como paradoxo ou ainda do amar. Passar ao lado, lugar no mundo? Lembro do vento com maresia. Lembro das taças de café. Lembro de ter ficado me perguntando o que eu fazia afinal de contas ali com uma pessoa tão silenciosa. Um desconforto, um desvio de assunto, uma lembrança da filosofia, um sorriso & um silêncio: ele não respondia às perguntas, nenhuma, não pensei que fosse tão silencioso em seu silêncio. Há alguma forma de Poesia que não passe ao lado da Vida Real? Val-do-Corredor-Literário me disse ontem que a Poesia nos salvará, a todos nós, eu digo a ela que a Poesia não consegue salvar duas pessoas que se amam no tempo-mesmo e no mesmo-lugar. A Poesia não salva nem mesmo ao Poeta, a salvação passará ao lado? Em meio ao meu ceticismo é sagrado ter Val-do-Corredor-Literário com quem posso dizer abertamente o que penso. Sei que ela entenderá porque entende o mundo o tempo todo com versos poéticos. Então, o meu caminho no jardim dele estava correto. Não é o caminho do meio o caminho da paixão no paradoxo, é o caminho dos passos dos verdadeiros Poetas a passar ao lado que poderá salvar, o jardim me lembra hoje palavras-outras, a Poesia de Val estendida para a Realidade salvando a si, aos amigos, o mundo, quem sabe, a própria Poesia.

Sinto que Platão entendia de passos dados ao lado da Vida, sentia sim, com ele aprendi que posso inverter a afirmação de Kierkegaard e então a paixão torna-se o paradoxo do pensamento a se mover para a esfera do amar ou não-amar. Mas, Kierkegaard não foi propriamente um Poeta, Platão o foi com grandeza e iluminação. Deve ser porque Kierkegaard possuía nas margens de sua paixão o pensamento. Platão deu todos os passos, possuía muitas margens de um mesmo Jardim. Baudelaire, nas Flores do Mal, nos impele a deixarmos Platão de lado, o Poeta Maldito nos intima a passar ao lado do filósofo quando diz: "Deixe o velho Platão franzir seu olho sério." Talvez sejam as margens do passar ao lado, sim, deixem que os Poetas amem o que quiserem, digam o que tem vontade, amem a quem desejar, escolham a linguagem que possam amar, tentem salvar o mundo_ com ou sem Poesia. Deixem, os Poetas passarem ao lado & deixem que Platão continue franzindo seu olho tão sério. Deixem,
a paixão ser o paradoxo da Vida.
Deixem, que Meu Poeta continue franzindo seu olhar tão melancólico_ talvez seja o seu passar ao lado sem deixar de passar.
Um beijo ao Poeta, o único Poeta que conheci semelhante a Platão, a passar e a não-passar ao lado da Vida ao mesmo tempo em que faz Literatura, passa junto com a Literatura.
sANdrA