sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Para Quando Sentires a Finitude Como Não-Brevidade

O Estrangeiro_ Se eu sumir será um sumir breve.
Anna Karenina_ Quanto tempo seria este breve?
O Estrangeiro_ Difícil temporalizar. É breve.

A angústia diante de uma possibilidade imaginária em devir pode vir a ter seu tempo real de existência. O sumir como breve. O breve como tempo. A pergunta pelo tempo. A impossibilidade de dizê-lo em minutos, horas, meses ou por um tempo subjetivo ínfimo e, apesar disso, longo. Então, tudo definido como breve, muito breve. Mas algumas imagens de lembranças soam também com brevidade sem que sejam como um sumir breve, pois em seu outro extremo, o sumir do já vivido, já tocado, sentido, adorado, ao ser trazido de volta em representações de imagens faz surgir uma sensação próxima àquela já vivida, então, percebemos o quanto é difícil temporalizar. Simplesmente a imagem retornada, sentida como a sensação-vivida de um instante, surge como sentimento logo definido por felicidade, tudo se esvai, lembranças somente elas são solipsistas: só quem as lembra é quem as vive. O tempo breve do empírico em contraponto com o breve tempo do re-viver de mesmas sensações via recordações, dizem duplamente: já foi, o instante já passou, o momento das imagens em recordações se perde como tudo. Tudo passa e o desejo de reviver infinitas vezes na solidão de nossas representações, trazidas de volta mais uma vez, lembram que elas são um outro jeito da brevidade existir. Estado alucinado de um não-sumir de sensações. Não há como saber quais as possibilidades imaginárias a se darem no real e qual possibilidade vivida pode vir-a-ser aquela do real-imaginário. Brevidade é um outro nome para a finitude, de mãos dadas, passeamos junto com elas formando outras possibilidades.
O Estrangeiro tinha ainda muito de imaginário e, por isso, as possibilidades eram ora encantadoras ora de instantes solipsistas. Era o valor de um instante. E eu o sentia. E eu me encantava.
sandra & As Flutuações da Brevidade