sábado, março 11, 2006

Por que as águas passam tantas e tantas vezes pelo mesmo lugar?

Crátilo_ "Diadorim é o sertão inteiro. E o sertão é o mundo todo. Também as águas de um rio que não podem jamais parar o seu curso."
Anna K_ Por que as águas passam tantas e tantas vezes pelo mesmo lugar?
Crátilo_ Quem sabe não têm força para não passar, seu curso não deve ser interrompido. Como na metáfora-em-Diadorim.
Anna K_ Dependem de nossa representação junto aos passos dados a cada instante.
Crátilo_ Dependem da existência dos instantes do mundo todo. E se "eles" existem da forma como existem é por tua causa, pela minha, pelas idéias que passam tantas & tantas vezes pelo mesmo lugar, nossa representação, levando seu curso ilusoriamente para outro lugar, então, "sobre a mesa do passado repito esse encanto do presente."
Anna K_ Ao brincares de profecia com Dylan Thomas levaste num instante as águas de um curso passado para uma repetição que no presente se mostrara com encanto. Mas, como foi a imagem primeira que viste? Fazendo de conta que não, fazendo com que o rio pareça visível de um jeito que não foi; o invisível das águas, onde está? No passado? Na repetição do passado? Na repetição de um encanto presente onde não sabemos se o encanto é o que é ou somente a mediação para ver a "mesa do passado" que nos mesmo lugar, depois de tantas e tantas vezes, fez suportar os "punhais da melancolia"?
Crátilo_ Porque as águas do rio retornam na direção inversa e nossos olhos as vêem indo na direção de sempre e sequer estão realmente aí, os "punhais da melancolia" existem por nossa causa. Talvez seja tudo.
Anna K & as Baladas Literas Com Crátilo & As Contínuas Estranhezas dO Curso da Vida Que Se Estampa "Sobre A Mesa Do Passado"