sábado, fevereiro 21, 2004

Possibilidades passadas

Há um parágrafo de Kierkegaard em que ele fala sobre a angústia, sobre a angústia provocada por possibilidades imaginárias e que após se ter passado pelo empírico percebemos que a angústia de nosso imaginário é muito maior do que fora na realidade. Associei este fragmento ao primeiro texto de Temor e Tremor, onde Kierkegaard fornece vários finais para uma mesma história. A história de Abraão e Isaac, o começo é relativamente o mesmo, finais diferentes, finais que poderiam ter acontecido ou não. O filósofo parece trabalhar neste texto com ‘possibilidades passadas’. Quando pensamos em possibilidades elas se referem ao que está por vir-a-ser, dificilmente ficamos desdobrando algo em inúmeras possibilidades que poderiam ter sido sem que se refiram a nossa própria vida. Mas, Kierkegaard vai além de si mesmo, mostra através de Abraaõ e Isaac a possibilidade das possibilidades passadas, como uma espécie de ficção, sem que o seja para aquele que as pensa. A pergunta que fica é: se posso realmente dizer que em seu pensamento ele trabalha com possibilidades passadas e se, sim, o que isso representa dentro de sua filosofia? Qual o sentido que a angústia toma para Kierkegaard se a angústia imaginária for pensada via angústia passada, desdobrada em vários finais diferentes para uma mesma situação e para as mesmas 'personagens'?
sandra & Kierkegaard & a angústia com suas possibilidades passadas