domingo, agosto 01, 2010

Deus não pisca

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DEUS NÃO PISCA

Atravessei instantes de misticidade & deidade sem mediação química. Eu vi uma Face com Olhos que não piscam nunca, eu vi Olhos que eram de um azul marinho inexistente_aqui_ para nós, os frágeis humanos, & vi que o Poder Divino é imenso e nada parecido com o que nos ensinaram ao longo dos séculos & séculos & compreendi a razão pela qual Ele não mostra sua Face & que nada é por acaso. E que as explicações dadas estão tão distantes daquilo que ‘é’ que só consigo lembrar de Saramago descrevendo uma cegueira branca onde um ‘guia’ (uma pessoa que ainda pudesse enxergar em meio aos cegos) não conseguiria ajudá-los em sua sobrevivência porque a primeira manifestação do caos é sempre o primitivismo, sobre o qual um possível guia que tivesse a luz no lugar da cegueira branca, não conseguiria conter, esclarecer, dar uma direção de vida e sobrevivência a todos os outros. Um guia que visse em meio a milhões de cegos seria como um ponto de luz perdido no universo ou como uma estrela que fazendo parte de uma constelação é a última a se apagar, a última a morrer. O guia, portanto, tem certa predileção divina, será sempre o último a partir, se partir, o testemunho de que um dia existiu uma constelação_ se é que a metáfora de imagem ficou passível de uma analogia à humanidade.

Deus não pisca: foi o que vi.

Não sabia como ordenar a visão. Lendo o texto da Coluna Espiral/G1 ficou tudo tão claro, como a luz dos olhos que nunca, jamais em tempo algum piscou uma única vez sequer. Diz o texto: “Diversas vezes ao dia piscamos o olho. Em teoria, a cada piscada experienciamos um momento de completa escuridão. A cada minuto, temos 6 segundos de completa escuridão que, somados por toda a vida, seriam alguns anos passados no escuro, inconscientes mesmo estando acordados. (preciso interromper esta parte para dizer que Saramago teria adorado esta ideia do autor) Por que isso acontece? A ideia é que o cérebro interpreta a piscada, editando os momentos escuros da nossa experiência. (...) As piscadas funcionariam como uma forma de pontuação mental. Uma idéia certamente atraente, mas sem nenhuma base científica’.

Deus não pisca: e não está preocupado com bases científicas, deve se rir com isso, uma faceta do desespero humano em provar a qualquer custo o que não lhe chega aos ‘olhos’, os humanos piscam o tempo todo e (contrariando o autor) eu diria que sempre nos momentos vitais. Alguns ‘piscam’ de olhos bem abertos, às vezes sem escolha, às vezes anestesiados, entorpecidos, adormecidos ou embebidos em verdades oriundas de ojos cerrados mil vezes, verdades humanas vistas por uma fresta de luminosidade, eis Deus rindo disso tudo sem piscar, claro. Para os poucos que saem do estado entorpecido há um caminho trilhado (já vivido, portanto) preenchido por piscadas-dormentes e como se sonâmbulos fossem, estes se perguntarão: mas, por que tudo isso? A resposta não está longe, antes que pisque 3 vezes, muito será negado, em vão.

Se as piscadas funcionam como vírgulas no cérebro (ou como diz o autor no texto como forma de pontuação do pensamento), e se Deus não pisca nunca, então Ele não possui ‘vírgulas’ ou ‘pontos’ mentais e não haveria passado de escuridão em sua memória, nada escapou ou escapa aos seus olhos, tudo vê & tudo sabe sobre os fragmentos que a humanidade deixa escapar pelos diversos tipos de cegueira, a histórica (ou o não ter estado aqui em outras épocas e tendo que acreditar que aquilo que nos chega é de fato a forma como aconteceu, sabemos que não é bem assim), a escuridão existencial, espiritual, intelectual, para cada piscada um final ‘al’. Bem, de outra forma, poderíamos dizer simplesmente que se Deus não pisca e sem nenhum átimo de escuridão em sua Memória Divina, a humanidade está perdida. Fico imaginando uma Memória Divina com tudo que os seres humanos já fizeram neste Planeta uns aos outros, de repente está lá Deus, na esfera de luz do seu Universo, lembrando que em 14.... enquanto Nostradamus escrevia suas centúrias, atrocidades e pestes e doenças assolavam uma parte do planeta; ou dizendo ‘meus filhos’, isso que acabaram de inventar não veio de minha esfera, veio do outro lado, como são cegos, não vêem o que o futuro fará com ‘isso’? O livre-arbítrio segue, assim como segue minha memória que tudo lembra. Eu não pisco, diria Deus, e, por isso, dei aos homens dois atos aos quais não atribuí livre-arbítrio: estão condenados a fecharem os olhos ou por piscadas ou pelo sono que vem e há de vir todas as noites, para alguns, todos os dias & cada vez mais, para outros.

Enquanto a humanidade for fraca continuará piscando e vivendo a escuridão, cegos em doses homeopáticas.

Mas, para alguns, como se eleitos fossem, talvez as piscadas funcionem de outra forma, inversamente, como um retorno breve, como um lampejo metafísico ao que se passa, sim, ao que se passa, a própria vida. Enquanto Deus não pisca nunca, nós piscamos ora para ir ao sono ora para ir ao que já vive em nós. Pisquemos, pois Deus, sábio, não nos fez sem o ato de piscar. Talvez quando estivermos evoluídos, longe dos atos primitivos, ele permita uma redução de piscadas e em troca nos dê ainda revelações dos séculos passados. Ou, talvez, o mimo venha em forma de visões apenas com um toque de pálpebras fechadas, alguns serão capazes de revelar segredos milenares com um simples cerrar de olhos momentâneo, por exemplo, o Visionário revelaria o verdadeiro túmulo de Cristo onde provavelmente se encontra a coroa de espinhos e a cruz de sua crucificação e, ao lado, pasmem!, o túmulo de Maria Madalena, e não é que ela não fora exilada e estão os dois lado a lado?! E todo o ambiente cuidadosamente decorado com jarros e papiros antigos, e descobrirão lá o Diário que ambos escreveram juntos, eis, Cristo que ao lado de Sócrates nada escrevera!, e seu Diário de mil papiros em jarros & jarros cobertos com mirra & incenso e tudo tão diferente do que pensamos que era a verdade, ora veja! E, quem sabe, o Santo Sudário não esteja a envolver o corpo de Maria Madalena? Tudo seria visto sob uma nova luz. Assim, a ‘fechada’ momentânea de olhos viria em formato visionário de segredos que fariam as pessoas abrirem bem seus olhos rezando para não piscarem em tal momento para depois chorarem revelações. Por enquanto, vamos vivendo com os olhos tipo asas de borboletas batendo ao mesmo instante, o que não faz lá tanta diferença, contínua oscilação entre o ‘ver’ (que nem é tão ‘ver’ assim) e o ‘não-ver’ involuntário,

Há chegado o tempo & será dito: Que o Senhor Deus te repreenda pelos teus atos.
É que Ele pode entende?, tudo sabe, tudo vê, sem passado de escuridão em sua Memória Divina. Ah, Ele deve estar com uma vontade enorme de ‘descarregar’ esse power-drive e recomeçar do zero_ uma só Piscada Divina e tudo e todos cairiam no mais profundo vazio. Vai ver a vida na Terra principiou por uma piscadela e se foi involuntária, uma distração divina, digamos assim, tanto pior (dispensa explicações).

Minha pergunta é: Deus, falta muito para uma primeira piscada? E depois, se houver uma segunda e uma terceira e uma quarta piscada, o que estará por vir?
* (... tentando não piscar, e se a resposta passar pelos meus olhos mentais e/ou não mentais e eu estiver imersa na ‘escuridão’?, que não posso estar entorpecida, não posso, me avise, sim, Deus, se & quando será isso... )_ será que pedi demais?
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sandra adriana fasolo
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