quinta-feira, janeiro 11, 2007

O Vermelho Literário de um dos Meus Poetas


O Poeta disse-me um dia: "hoje li na capa de um livro que "a morte tem os lábios vermelhos".
Perguntei a ele se a Menina de Vestido Vermelho poderia pintar seus lábios também de vermelho.
Disse-me ele mais tarde, a mesma cor em lugares outros é vida ou é morte, é amor ou não-amor, é suavidade ou rispidez, é e não-é, pois seguindo o princípio aristotélico da não-contradição uma coisa não pode "ser" e "não-ser" ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, no entanto, um átimo de segundo já é suficiente para que algo se "for" não mais o seja, se "não for" que então seja. Um átimo de devir torna a vida seguidora das águas aristotélicas sem nenhuma contradição, nenhuma. Existindo em nossa representação sem olhos para ver a passagem do devir em átimos, nosso olhar desliza, vai pela superfície como um barquinho navegando sobre as ondas, balança... a balançar... balançando... como uma criança que pensa estar brincando de balanço e no fundo brinca com o vento, no fundo a felicidade do instante lúdico se encontra no vento que a envolve. O vento poderia ser a metáfora do átimo em devir, ambos invisíveis aos nossos olhos. A possibilidade de contradição está no não-ver, Sísifo parado olhando para a Vida, assim somos todos? Desisti de pintar meus lábios de vermelho, eu ainda não sei em que lugares-outros minha cor pode habitar, eu ainda não sei ver o devir do átimo, eu, então, às vezes, somente às vezes, seguro um bouquê de flores vermelhas e penso, se eu tivesse os olhos do Poeta para enxergar "o que é invisível aos olhos", eu, como ele, veria quando "é" a vida e quando "é" a morte a vestir-se de vermelho, apenas isso e sem nenhuma contradição, nenhuma.
beijo para o Poeta_com manchas de batom rouge
sANdrA adriANA