quinta-feira, maio 18, 2006

Do Que Precisamos Para Sermos Felizes? Livros & Taças de Kafé

Kafé Roceiro pergunta: Anna, como seria pensar um novo mundo? O que desejarias-tu?

Anna responde: Kafé, Kafé, sem dúvida um novo mundo teria que começar com uma taça de Kafé & Chantilly e, claro, acompanhado de livros. Não consigo imaginar um mundo sem livros & sem imaginário. Não importa criar outros mundos, importa viver o seu próprio em qualquer lugar em que se esteja. Mas, fez-se então agora outra Imagem & em todos os lugares: livros, livros e mais livros, seriam mágicos como o ‘livro de areia’ de Borges onde um mesmo livro nunca seria o mesmo, a cada novo toque ele se transformaria, cada vez em que fosse aberto a mesma página "falaria" de coisas diferentes, do amor, do ar, do fogo, da vida, da beleza, do mal que com certeza também visitaria este novo mundo sem ser convidado. A natureza inteira: pedras, árvores, flores, montanhas & pássaros "falaria" como poesia & filosofia. Haveria epígrafes, fragmentos, poesias, ensaios, estampados como arte em cada ser da natureza. & em cada ser humano haveria a estampa de uma imagem da natureza & isto seria como um pacto de reciprocidade do Belo existente entre estes dois mundos tão visíveis e tão diferentes. E ao passear por um jardim com uma taça de Kafé entre as mãos admiraríamos, por exemplo, a tartaruga dos paradoxos de Zenão com versos-falando-vida. E o olhar para uma folha poderia ser a visão do passeio de uma pequeníssima joaninha que em vez de pontinhos minúsculos teria uma parte do Fausto de Goethe imprimida em seu corpo vermelho a passear pela folha-verde com aforismos outros. Literatos e filósofos habitariam este mundo de um jeito natural e artístico e nenhum deles soaria estranho a qualquer ser humano, pois fariam parte do movimento da Vida como qualquer movimento da natureza que implica em Vida. Flaubert, Fernando Pessoa, Platão, Clarice Lispector, Anais Nin, Tolstói, Dostoievsky, Camus, uma chance a mais aos filósofos: Schopenhauer, Cioran, Nietzsche, Voltaire, novamente Platão & isso ao infinito, não mais livros, mas fragmentos escritos nas folhas das árvores, nas nuvens, e mesmo o sol antes de partir estamparia uma linda frase, sempre-outra a cada novo crepúsculo & aurora; e o mar traria com as ondas conchas literárias, caranguejos sartreanos, algas pessoanas, ondas heraclíticas, um ou outro corvo traria em sua plumagem o belíssimo poema ‘O corvo’, de Edgar Allan Poe; as pombas com versos de Eliott & os golfinhos para Dylan Thomas; as águas do mar para Florbela Espanca & a pele dos poetas para Sofia de Mello Andersen. E reservaríamos, quem sabe, todas as espécies de flores para as Flores do Mal de Baudelaire & as areias da Arábia para Rimbaud da Arábia & Sua Estadia no Inferno. Tudo neste mundo sonharia ser somente poesia & filosofia eternizadas no "mundo da vida". E seria belo & divino viver em um lugar assim, seria muito lúdico escolher fragmentos e poesias para distribuir pelo mundo todo, mas, então, agora percebo: isso também acabaria em algum tipo de guerra. Em todos os casos seria necessário Kafé, pois Kafé também tem suas várias formas de manifestar o "mundo da vida". Que fragmento colocarias-tu neste mundo, Kafé? E em que ser da natureza o colocarias?
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sANdrA & Um post litero-cafeínico para Kafé Roceiro
http://www.kaferoceiro.blogspot.com/