sexta-feira, maio 18, 2007

A Casa de Nove Portas Ao Mar & Ao Poeta


Para Ele, Que “Universaliza” os Cães em Nome-Outro & Ao Seu Cachimbo

“É sempre bom lembrar que” A Casa de Nove Portas era de vidro e dava para o Mar, com todas as suas portas em uma fileira linear e transparente em frente ao movimento das ondas, dia e noite, noite e dia, em noites escuras e em noites brancas. Para mim sem silêncio meu, canto: “se eu vou morrer de sede” em frente ao Mar, que a poesia me permita lembrar de Platão, amava as águas salgadas. A Casa de Nove Portas Ao Mar é quieta, silenciosa, flores rosas e brancas, verdes e algumas dálias, dálias porque um poeta disse-me um dia que elas parecem pensar. A dália é a flor do pensar, A Casa das Nove Portas ao Mar é de vidro, um pouco da areia constrói suas paredes invisíveis para além, muito além da metáfora de imagem de um filósofo-poeta, assim disse ele: "a filosofia é como esse vidro embaçado pelo tempo, essa imagem nebulosa não nos deixa ver com nitidez o que há lá fora, é preciso um exercício de percepção para vermos o que está do outro lado sem que tenhamos nós que estar lá também." A Casa de Nove Portas Ao Mar pensa. Um devaneio me cerca com essa imagem, e se por trás dessa nebulosidade fossemos encontrar mais nebulosidade? Imagino dois caminhos: aqui de onde olho, permanecer-pensando, fixando o olhar, tentando ver o que há depois da imagem não-nítida, posso escolher isso durante toda a minha vida, é um olhar que acabará por acompanhar essa película se deformando, se fixando cada vez mais, ficando menos densa, mais densa, posso eu mesma deformá-la com a minha percepção por não mais desviar o olhar, posso cegar a imagem que tento desvendar. Mas posso, por outra opção, levantar-me e caminhar até o vidro embaçado, olhar de perto, desenhar algo com a ponta dos dedos como um poeta talvez esparramasse seu pensar úmido por cima de areias coloridas e pensasse: eis um arco-íris que não está no céu, piso por sobre o arco-íris molhando meus pés em águas salgadas, no céu eu vejo a areia linear e monocromática da orla do Mar e nA Casa de Nove Portas Ao Mar vislumbro poesia por trás do vidro embaçado que deixei para trás, com a diferença de que agora o vidro está do lado de fora, mas eu também estou do lado de fora, aqui, onde o mar se esparrama em frente às portas de vidro, o vidro embaçado pelo lado de dentro e leio tranquilamente meu nome que acabei de desenhar pelo lado de dentro antes de cruzar todas as portas. Imagino que o Poeta talvez me acompanhasse nesse devaneio, ele teria se levantado, teria desenhado ali mesmo, no dentro-da-falta-de-nitidez, sua inocência, enquanto o filósofo ficaria sentado, a este preferirá deformar a imagem embaçada com a insistência do seu olhar do que criar por sobre a imagem, é porque a Filosofia em demasia, como já observara Platão, sempre pergunta, embora o não-escutar de quem se predispõe a filosofar: sentirás como se tivesse já nascido em idade adulta, não lembrarás mais o que é ser criança, queres isso?, sim dizem os iniciados, para que precisaremos lembrar de tal época?, aqui sentado desejo ficar, a deformar a vida, a realidade e meu próprio pensar. Ao Poeta, a Poesia apenas sussurrra: sente o mundo como as crianças?, sentirás o mundo como as crianças, morrerás sentindo o mundo com a sensibilidade das crianças. Diz Searom de Suiciniv, que assim são os Poetas. E é por isso que o Poeta irá desenhar no vidro e talvez até esqueça de olhar através dele tão perdido ficará em devaneios, o que está do outro lado não será uma obsessão a nortear sua vida, é porque as crianças vivem no instante mágico do agora e não do outro lado do que pode vir-a-ser, as crianças vivem no tempo de sua sensibilidade. Eu as vi em frente A Casa de Nove Portas Ao Mar, desenhando um arco-iris no chão de areia enquanto o Poeta via flores num céu sem estrelas, era noite alta, era lua baixa, era sol silencioso, era o riso descontínuo das crianças, era o sorriso tímido e comovido do Poeta com os olhos úmidos de Vida, ele enterrava junto com elas os pés num arco-íris que ora sumia por debaixo das ondas ora resplandecia com a areia do céu, ele juraria estar com elas sempre sempre mesmo quando a tentação de fixar o olhar no lado-de-dentro do vidro parecesse a coisa mais sedutora da Vida. Então, sentaria com elas por sobre o arco-íris desenhado e lhes diria: "o Poeta tem o coração claro das aves e a sensibilidade das crianças", ele só procura o lado nítido da vida quando chora porque é aí, e só então aí, que a imagem embaçada faz sentido por lhe pertencer em alma, “ele é cheio de amor para as coisas da vida e é cheio de respeito para as coisas da morte”, a imobilidade de vida faz o ser humano perder a delicadeza e o respeito não só pelas coisas da morte, mas também pelo seu semelhante. Venham, diria ele ainda mil vezes, vamos desenhar em frente A Casa de Nove Portas Ao Mar um Poeta Que Não Tenha Fim?

sANdrA & A Imagem da Casa de Nove Portas de Vidro Aos Poetas