sexta-feira, maio 15, 2009

Poetas a Titubear

Fragmentos da crônica do Marcelo Rubens Paiva: “Amar”
(...)
“Os práticos diriam: "São carentes, querem a nossa atenção, nos querem de stand-by, querem alguém apaixonado, para satisfazer o vazio pessoal, nos envolvem numa rede de esperança, que tortura. Quem já não viveu uma história dessa? Com a idade, aprende-se a distinguir quem vale a pena ser amando. A sacar onde tem história e onde tem ilusão."
E o AMOR é prático?
Os lógicos diriam: "Caro poeta, sim, o amor é importante, mas se você sente que o outro lado não corresponde, simples: salta fora! Ame quem te ama. E tem tantas pessoas por aí dispostas a uma paixão. Não ame quem te enrola. Porque quem TITUBEIA não ama."
Mas quem quer viver a vida com coerência?
Amar sem ser correspondido também é amar. Faz bem ser louco por uma paixão distante. Faz bem acordar e pensar nele [nela], imaginar o que estaria fazendo, sonhar secretamente, esperar um e-mail, um telefonema, um encontro. Até na ausência, há AMOR.
Porque amamos amar.” (Paiva)
*
Lindo, lindo, "quem ama não titubeia", me desculpem, é o contrário, "quem titubeia não ama".
Deu o que pensar no blog do escritor. A mim também me fez pensar. As pessoas não são iguais, cada uma tem seu jeito de amar, seu jeito de manifestar, seu jeito de não manifestar, seu jeito, jeito... para algumas pessoas amar talvez seja titubear, algumas pessoas são 'lacônicas' para viver e quem sabe não conseguem amar de outra maneira. Lembrei até mesmo de "eduardo e mônica", música boa para mostrar as diferenças, ainda que sintonia acabe sendo sempre mais determinante para o cotidiano do que as diferenças, "eduardo e mônica" só sendo coisa do Renato Russo, sim? Ou não?
Adorei a crônica do Marcelo Rubens Paiva, mesmo não concordando inteiramente, porque sinto que os poetas são
Todos Titubeantes para a Vida, talvez com exceção do Vinicius de Morais.
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Voltando ao texto do Paiva: se eu pensar como lógica fica assim (para mim):
(se) quem titubeia não ama, logo quando amar manifestará atitudes no extremo oposto da titubeação.
(se) quem ama não titubeia, logo quando parar de amar começará a manifestar titubeação.

O titubeia 'funciona' como uma condição ou um condicional para dizer que a pessoa que assim "é" não ama, está fadada a não amar (no primeiro “se”)

Se eu pensar como uma pessoa prática fica assim: (não fica, porque sou péssima com as coisas práticas)

Se eu pensar poeticamente eu simplesmente vou querer fazer poesia com "quem titubeia não ama", vou querer saber dos poetas titubeantes, dos versos vacilantes, dos amores cambaleantes. Vou querer saber das palavras que formam poesia com a embriaguez de quem titubeia, vou querer saber porque um lógico não é bordejante e a razão pela qual um prático não é hesitante. Por que afinal de contas há versos oscilantes nos fazendo sentir às vezes uma coisa e às vezes outra, assim, ondulante.
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É que titubear pode ser pensado de várias formas, viver já fica mais complicado de descrever. Mas quem nunca titubeou antes diante de uma paixão? E meteu os pés pelas mãos? Quem nunca agiu convictamente diante de uma paixão? E também fez tudo atrapalhar? Titubear causa mais atrapalhação que não-titubear, é certo. Quem titubeia gagueja, é o tropeçar do sentido.
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Minha última titubeação em “se”: se um apaixonado não titubear numa paixão manifestará o seu oposto, soará pedante, pois quem consegue se sentir apaixonado e: "convicto, decidido, determinado, firme, inabalável, resoluto, seguro"*...?, a paixão não tira as nossas certezas?, sempre pensei que sim. Penso que caberia o sinônimo estar "embriagado" (para titubear). E sei que o texto do Paiva não pode ser lido apenas pelo significado de uma palavra isolada, temos que ver toda a argumentação, ficou lindo o que ele escreveu e faz também sentido para a vida, pior que faz... mas dá para “levar” para outros lados. Que é para isso que uma palavra tem vida, sim? Que é assim que as palavras titubeiam dentro da alma dos poetas, elas vão titubeando e se deixando levar. Titubear: tanto faz se vai para lá (escritos do Paiva) ou para cá (em derivações), continua lírica, na verdade ela própria, a palavra, deve titubear para fazer jus ao seu significante: o ápice do titubear é a palavra em si mostrar que titubeia, vacila, bordeja, embriaga, hesita; o não-ápice eu não saberia dizê-lo, deixo para algum lógico com a filosofia da mente afiadíssima me dizer, se possível.
sandra

*fragmento da crônica maravilhosa do Marcelo Rubens Paiva (para ler todo a crônica clique:

*sinônimos do houaiss