terça-feira, novembro 28, 2006

Folhas Decaídas Como Um Olhar Ao Chão


A Flor mudou de lugar. Quis indicar que não sou eu a dar a última palavra? Abriu a janela. Quis indicar que não sou eu a dar a última palavra? Perguntei onde estava o quadro verde, não respondeu. Quis indicar que não sou eu a dar a última palavra? Duas folhas da haste da flor caíram suavemente ao chão. Meu olhar foi acompanhando, acompanhando... se meu olhar fosse a queda das folhas eu teria a última palavra. Continuaram como um sinal. Como buscamos sinais diferentes em momentos também diferentes da vida. É o devir. Noite-finda com sinais na palma da mão: saí olhando para o mar. Nesta noite aprendi algo que Platão nos mostra a todo instante em seus Diálogos mas incrivelmente não vemos, não conseguimos ver embora esteja ali: aprendi que a dialética do perguntar e do responder, por mais abstrato que possa ser o que vem antes e o que será dito após o ponto de interrogação, acaba por nos trazer de volta à Realidade. Falar é muito muito Real, é o supremo ato da Realidade do aqui e agora, o silêncio é o mais alto grau de abstração. Quanto mais uma pessoa fala menor será o seu grau abstrativo, quanto mais em silêncio, maior será o seu grau abstrativo. Acredito nos Silenciosos. Acredito na queda de folhas que se desprendem suavemente de sua haste. Acredito que ter sentido/imaginado meu olhar como a queda das folhas foi um instante de abstração sem conter sequer a linguagem silenciosa.
Fui embora lentamente pela orla do Mar com as folhas decaídas na palma da mão. Senti que tudo isso estava em sintonia com o universo. As gaivotas voavam baixo, as ondas iam e vinham sem pressa. A noite estava linda e calma. Tudo parecia se mover quadro-quadro, como se a lentidão ironizasse o mundo. E eu não estava com pressa de interromper o meu olhar "fazendo chão".
sANdrA & A Certeza Através da Queda das Folhas de que Platão era Silencioso.