quarta-feira, fevereiro 22, 2006

O Para Sempre em Flutuações do Nascer

Anna Karenina — O mundo já estava andando.
O Estrangeiro — Mas, nesta hora o mundo já poderia ter parado.

Apenas uma referência ao mundo estar em movimento, pois quando nascemos tudo já estava aí, seguindo seu curso, nosso movimento deve ser o mesmo da expectativa desse aí-estar, agora, em existência. Chegamos, pois, muito depois. Mas, O Estrangeiro, com suas derivações inesperadas, acabou por despertar-me um sentir-outro num movimento não-captado pelas minhas sensações. E, ainda que eu nada dissesse a ele, desejava seguir no diálogo existencial sobre o “repentino” estar-aí, embora um segundo pensamento insistisse em atrapalhar o movimento de tal desejo. Este “segundo” pensamento queria assumir sua vontade num espaço ainda não destinado a ele, não era então uma contradição? Se quando chegamos, quando passamos a existir, o mundo já estava aí em suas formas de existência e passamos a fluir junto a tudo, como poderia eu, impedir o movimento deste segundo pensamento?_ a desejar sua vida própria, só porque eu insistia em manter a continuidade cartesiana do diálogo inicial? Julgado por mim como o ideal de se estar no mundo, pensado por mim como o ‘correto’ de uma seqüência cartesiana do bate-papo existencial com O Estrangeiro, sentido por mim como o reconhecimento de meu fluir de estar-no-mundo e naquele instante, junto ao Estrangeiro. No devir não compreendido por que eu ficara tão confusa? Eu já havia aprendido, o confundir-se passa ao lado quando vivemos cartesianamente e, quase-sempre, somos capazes de sustentá-lo tanto entre pratos lavados como entre suaves toques de pele. O fluir sem perguntas assume tais papéis que deveriam ser nossos o tempo todo? Sempre acabando de chegar, enquanto, agora, em meio à vida, somos nós a dizer à existência: já cheguei há algum tempo, agora as coisas que chegam é que precisam se inserir no meu fluir. O convencional-instante-cartesiano, a presença de Castorp pelas palavras: a vida é tão efêmera, tão breve, e, eu, lutando contra a sensação que a brevidade provocava em mim, deduzi que um movimento, qualquer que seja não importando se está a chegar ou a partir, não deveria jamais despertar o desejo do para sempre pela sua condição mesma de finitude. O para sempre estraga o meu olhar, o para sempre nunca fora incluído no movimento real do mundo, soando sempre como a contradição de toda possibilidade de vida, o para sempre nunca o poderia ser para sempre. Onde então se encontra tal mundo para o qual a existência do para sempre foi criada?
sandra & o Para Sempre em Flutuações do Nascer