terça-feira, abril 12, 2005

Quando eu retornei a planta não estava lá


Quando retornei, ao entrar na sala, percebi a ausência da planta que ficava ao lado direito de Levine.
"Onde está a planta? Você a retirou daqui. Para onde ela foi, Levine?"
"Foi plantada em outro lugar."
"Onde?" Onde ela está agora?"
"Lá fora, no jardim, entre outras, bem atrás."
"Por quê? Ela estava morrendo?"
Levine não respondeu. Ele estava diferente, havia algo diferente em sua expressão, até no tom de sua voz, no entanto, continuava sem dar muitas respostas. Às vezes isso me lembra uma fala de Solaris, "não há respostas, está entendendo o que eu quero dizer?, não há respostas, só há escolhas."
A antiga folhagem era delicada, quase uma arte em sua cor e em suas formas irregulares de pequenas folhas em tons verde-claros e amarelo, a nova folhagem é cor de verde-musgo. Levine também estava de camisa verde-escuro. Uma sensação de perda me invadiu o tempo todo. Era só uma planta, só isso, a diferença é que possuía um significado especial, um ponto de referência ou o porto seguro que espera pacientemente o momento em que decidiremos qual o rumo a seguir. Porto seguro contém um paradoxo, todo porto é por assim dizer um lugar temporário, de passagens transitórias, é reconfortante estar nele antes de decidirmos para onde partiremos, após a partida, adeus porto, estamos novamente entregues a outros caminhos e o porto ficará cada vez mais distante até sumir junto com o horizonte. Quem sabe, as pessoas que conhecemos também sejam assim, um dia a nossa percepção no diz que elas sumiram lá longe no horizonte e não é mais possível vê-las. Então, viramos a face para o outro lado para ver se o novo horizonte já é possível de ser visto. Se não for possível, para onde olharemos até que seja?
"Meu silêncio" foi plantado lá no jardim, ficará ao ar livre, mas exposto ao frio.
Ficará à luz do sol, mas exposto ao calor excessivo.
Ficará na chuva, mas a espera de ventanias.
Do pequeno espaço para a terra. De volta para 'a terra', como um eterno retorno que movimenta a vida para seu lugar de origem. Os outros são todos hóspedes.
Não faria sentido passar pelo jardim e insistir na busca das folhas-delicadas, eu adorava levá-las comigo. Sim, não faria mais sentido, pois meu silêncio não é mais testemunha de minhas palavras. Não mais. Passado, incompleto.
Contínuo com novos hóspedes. Não gostei da nova folhagem, ela "sobra" no espaço levinianiano. Apostaria as folhas que me restam como Levine não curtiu a substituição.
Havia levado uma lembrança para ele, algo que me acompanha há algum tempo, para deixar na estante de sua sala, no entanto, tendo relação com a antiga planta, soou, silenciosamente, déplacée. Seria como retirar a folha-alterna lá de fora e simbolicamente devolvê-la ao seu lugar. Acabei mudando de idéia.
Há algo diferente.
Não sei se devo retornar.
Há algo perdido.
Desejo ver?
sandra e a confirmação de uma "intuição": a planta fora realmente retirada.