terça-feira, junho 24, 2008

Soporíferos & Verdadeiros (as) no "Jardim de Cinzas"

[Imagem retirada do CD Fernando Pessoa.Casa Fernando Pessoa_Lisboa]
Havia começado a escrever um breve ensaio sobre a fragilidade da mudança não-cartesiana, meia-luz do abajur, David Guilmour, um incenso de alecrim... adoro escrever com um astral assim, quando o não-dia faz com que o mundo pareça um mar calmo e silencioso, quando a não-noite já se espargiu para o outro lado do mundo (fenomênico). Mas estou muito divagante para me concentrar no fragmento que pretendia dar vida (dentro de um mundo não tão fenomênico assim). Ouço na voz de Guilmour os versos que eram de Syd Barret, estou com outros pensamentos me rondando e, por isso, a tal fragilidade da mudança não-cartesiana fica parecendo sem sentido, com um tom por demais acadêmico para o meu estado de 'anima', estou sonolenta_ estado de fragilidade também? Talvez... (talvez obter respostas de estados sonolentos seja bem próximo da verdade que desejamos e desejamos e desejamos). O estado de vigília é o pior momento para se perguntar a alguém que amamos qualquer coisa que pretensamente gostaríamos de saber, e não simplesmente saber, mas saber com a sensação de que aquilo era a resposta verdadeira que de antemão já se esperava. O estado de vigília com suas chaves e senhas e defesas não faz de nenhum ser humano a verdade de si mesmo ao outro. As pessoas deveriam discutir relações, fazer confidências, promessas, falar de seus sonhos e presságios, amar, não-amar, ... em estado soporífero, o mundo seria bem diferente. Estou sonolenta, altas horas, hoje, qualquer pergunta me tiraria qualquer verdade. Mas amanhã, o estado de vigília me fará pensar muito antes de responder e não costumo dar respostas abertas e interessantes quando não me interesso pelo estado de vigília que está a minha frente, diferente da aparição de um ser soporiferizante com olhar melancólico. Eu deveria era escrever sobre a fragilidade da mudança melancólica em suas diferentes nuances existenciais, pois eis que adoro os melancólicos, quem sabe vivam sempre pelo viés perceptivo da não-vigília e, por esta razão, aquele ar 'blasé' (o blasé antigo...) que ora nos espanta, ora nos instiga, ora nos amedronta, faz soar de tempos em tempos a pergunta tautológica sobre os melancólicos: por que somente algumas poucas pessoas nascem com este tipo de olhar? Não conseguimos compreender um ar soporífero cheio de Vida. Seria a suprema contradição da fragilidade?
[Que Descartes fosse ouvir Pink Floyd ou Zé Ramalho!]
sANdrA_ (agora ouvindo Ben Harper, Ashes) * Sou do tipo que ama os 'sinais' da Vida, fui olhar a tradução de Ashes porque o som é lírico, mas eu queria também os versos, que coisa linda: "Jardim de Cinzas: O desconhecido é somente para poucos/E somente as sombras conhecem/Conhecem sua face e a mantém acesa/Uma das velas da alma/O céu é escuro/Iluminado em glória no vento de cinzas/Obscurecendo os jardins do castelo...alma de minha alma/Quem merece minhas lágrimas?/No grito do tempo/De minha mente confusa/A noite eterna Lentamente encobre meus olhos/Com as chamas das verdades/Tăo quieto é o vento surdo/Tăo silencioso,silencioso é o reino da noite/Oh, o tempo/Queimando tăo frio/Olhos eternos tăo vazios/Retratos em frente a meus olhos/săo como uma chama/Quadros pálidos/beijando o céu na lua/Da vergonha/Escute meu coraçăo agora/No jardim de cinzas eu ouço sua chamada/Para a luxúria e feitiço/A traiçăo engana... os espinhos săo celas."