segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Do Não Lembrar Pela Superfície de Sensações

Anna karenina_ — “A superfície do beijo”, você ouviu isso?
O Estrangeiro — Sim, lembrei de alguns momentos meus, deslocamentos longos.
Anna Karenina — Como uma coisa presente pode de repente nos jogar para tão longe?
O Estrangeiro — Memória.
Anna Karenina — Não. Falo de lembranças despertadas pela linguagem transposta para a musicalidade. Por que a superfície de um beijo nos jogou para um lugar tão distante?
O Estrangeiro — Não foi a superfície do beijo. Foi só a música.
*
Apenas a lembrança "refletida no espelho das ondas" tem força para se distanciar de sua própria superfície de lembranças-em-imagens? "Abro nas folhas da água uma passagem" e esta passagem não se torna o reflexo que paira acima do espelho das ondas, torna-se a Vida em si mesma, sem espelho, destino do movimento, a Vida, nem superfícies nem reflexos.