sábado, novembro 06, 2004

"Pequena Terna Alma Flutuante"


Sonhei com H.M. durante longo tempo... não lembro a ordem das imagens, numa delas eu estava saindo de uma sala e indo em sua direção. H.M. disse: deves colocar as coisas junto ao coração. Ele era diferente da imagem real, mais jovem, sem barba, outro corte de cabelo. Usava roupas brancas. Sentou-se ao meu lado, eu trazia um livro de Schopenhauer. Ele então comentou: deves ler Schopenhauer_ depois começou a falar sobre poesia. Eu deveria falar também sobre poesia. Respondi que muitos me aconselham a isso, largar a ontologia e coisas filosóficas tão pesadas para escrever poesia, mas não era esse o meu desejo mais profundo. Havia cortinas azuis, um homem observava, de repente eu disse: c’est moi. Evitei o contato. Mas ele puxou minhas mãos de volta ao seu encontro e foi como se sentisse realmente seus dedos em meu corpo. A presença do homem desconhecido ainda nos observava. H.M. levantou-se da cadeira, pegou um manto azul e envolveu meu corpo nele, o tecido estava mais escuro na parte que havia estado em contato com a pele dele. Olhei-o e agora ele estava molhado, suado. Saímos para fora da sala, pegou um pássaro verde e o colocou sobre a palma de minha mão. O pássaro ficou passeando da minha mão para a dele e vice-versa, era verde, muito verde. Ao retornarmos para a sala nos deparamos no caminho com uma ponte, só possuía o corrimão, um rapaz pegou-me no colo e disse que me ajudaria a atravessar, ele deslizou por um fio de metal azul até a outra ponta como se voássemos pela ponte feita de um fio azul-cinza e reluzente. H.M ficara no outro extremo e agora observava. Então, fiz o mesmo e percebi "o quê" na imagem dele em sonhos era diferente do que conhecera, olhando à distância pensei: ele é outro, diferente daquele trazido pela lembrança, aqui é muito mais belo, mas onde está aquilo pelo qual tanto me encantei e julgara ser o mais belo de tudo? Como se a imagem física fosse mais bonita, eu não conseguia ver aquilo que me fez senti-lo de forma tão intensa e com tanta beleza de outra forma. E por causa dessa sensação, dessa falta ou inversão de encantamento por estarmos em outro "lugar", percebi em seu olhar a serenidade como algo anterior às próprias palavras ditas, ainda que em um estranho sonho. Talvez tenha "visto" muito mais do que era para ver_ e sentido muito mais do que deveria ser permitido sentir em imagens de uma pequena terna alma flutuante. Ele também sabia disso. Então, sorri para ele ainda uma última vez.
Mas,
por que eu deveria ler Schopenhauer? E o que tem a ver com poesia?
A resistência talvez tenha relação com Schopenhauer ou será que a poesia é que flutua nela?
& Antigos Sonhos de "Pequena Terna Alma Flutuante"_ ainda não-schopenhaueriana